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Vidas são transformadas em comunidades indígenas de Baturité
INCLUSÃO SOCIAL
Desde o início das atividades do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas no campus de Baturité do Instituto Federal do Ceará (IFCE), em meados de 2014, a coordenação já tinha o objetivo de desenvolver atividades de extensão nas comunidades indígenas e quilombolas da região do Maciço de Baturité ( que reúne treze municípios).
Na comunidade indígena Kanindé de Aratuba, essa inserção de atividades se desenvolveu e ampliou as oportunidades de várias famílias que lá residem. A aluna indígena Camila Gomes da Silva cursa Hotelaria no campus de Baturité desde 2015. Ela teve conhecimento dos cursos por meio do NEABI, quando da atividade de Pesquisa e Extensão na comunidade, intitulada “Sabores e Saberes”, em 2014.
Camila conta que, ao iniciar o curso superior de Hotelaria, surgiram resistências do cacique e dos pajés da aldeia: a principal contestação era o receio de que se perdessem costumes e crenças, próprios dos Kanindé de Aratuba, no decorrer dos anos de ensino superior. “Nós, na aldeia, realizamos danças e rituais todos os dias, como forma de agradecimento ao novo dia que surge, e como às vezes estou ausente dos rituais, devido às atividades acadêmicas que desenvolvo no campus, houve essa resistência", pontua.
Camila é a única da família que saiu da aldeia para fazer um curso superior. Ela estudou toda a formação fundamental e média na Escola Indígena Manoel Francisco dos Santos, localizada no centro da Aldeia, que desenvolve atividades culturais com o intuito de preservar a história e a memória de todos os indígenas que por lá passaram.
Mas a história de Camila foi precedida pela de Rildelene dos Santos da Silva. Na véspera do Dia do Índio do ano de 2017, a então aluna Rildelene, também indígena da Aldeia Kanindé de Aratuba, concluiu o curso de Tecnologia de Gastronomia. Rildelene foi a primeira estudante de comunidade indígena a concluir curso superior.
O trabalho de conclusão de curso dela, intitulado “Bebida indígena mocororó: desvendando um pouco da composição e da aceitação por não indígenas", consistia na realização de entrevistas com lideranças indígenas dos Kanindé e Tremembé a respeito da bebida típica, avaliação sensorial por não indígenas e análise de composição. A aluna destaca, como comemoração ao Dia do Índio, a importância das ações desenvolvidas pelo NEABI na comunidade em que reside, atuando como agente de transformação da realidade local. “Por meio do NEABI, pude me aproximar das ações acadêmicas, projetos e cursos do Instituto Federal do Ceará, campus de Baturité”, afirmou.
Atualmente, o campus Baturité tem seis estudantes oriundos das comunidades indígenas da região. As atividades desenvolvidas pelo NEABI são coordenadas pela docente Anna Erika Ferreira Lima. A aldeia Kanindé é centenária e tem a história marcada por processo de migrações, e vem mantendo, apesar de dispersões, laços de parentesco e sociabilidade que unem as comunidades da região à educação. Através das ações de Ensino, Pesquisa e Extensão do IFCE, os membros das comunidades estão, gradativamente, sendo inseridos no mercado de trabalho. Com isso, a educação cria, cada vez mais, relações interculturais.
Por Inácio Oliveira - campus de Baturité


